Adeus, Apple Developer Academy!

Ramón Dias
8 min readDec 16, 2020

Essa é uma carta que conta um pouco da minha trajetória, algumas reflexões e muitos agradecimentos.

Geralmente escrevo meus textos em inglês, este foge da regra. Este foge da regra devido a quem imagino lendo este texto. Este texto deveria ser lido talvez pela galera que irá fazer parte do Apple Developer Academy. E se entramos nas questões de alcance, escrever inglês para um público brasileiro, não faria sentido algum.

Aqueles que acharem interessante este texto, fica apenas o agradecimento por terem apreciado.

Engenharia Civil ou Engenharia de Cimento?

Sim, o primeiro capítulo dessa história começa na faculdade de Engenharia Civil. Eu estava no 6º semestre, cursando disciplinas bem específicas como Mecânica dos Sólidos, Hidrologia, Hidráulica e tantas outras mais.

Faltavam 4 semestres para me formar, ou 2 anos se preferir. Muito para quem está no curso, pouco para quem está de fora. Eu estava no primeiro grupo de pessoas, achava muito tempo. Ainda tinha um agravante: eu estava extremamente infeliz.

Eu tinha um estágio, porém envolvido mais com a parte administrativa da engenharia. Eu queria prática, mas cada vez mais que me aprofundava na prática da engenharia, mais triste eu ficava — uma verdadeira bola de neve. Me sentia deslocado e que talvez aquilo não era para mim.

Apesar de gostar de Cálculo — sim, amava fazer derivadas e integrais — , tudo que tinha haver com Matemática ou Física. Ainda sim, odiava estudar cimento, argamassa, ou seus semelhantes.

Inimigo da maioria das pessoas que estudam Cálculo. Um amor que surgiu com o tempo.

Brinco dizendo que a faculdade de Engenharia Civil, na verdade, é Engenharia do Cimento. O tanto que você estuda sobre tipos de cimento, CP-I, CP-II, CP-III, etc. Porcentagem de água que a areia absorveu e como isso impacta no cimento. Entre tantas outras coisas que afetam o cimento.

Confesso que nunca me senti tão perdido. Já havia desistido de um curso — sim, havia desistido de Economia — , iria desistir de outro. Minha ansiedade bateu forte.

No entanto, eu decidi tentar novamente. Seria um recomeço e minha última tentativa de fazer as coisas do meu jeito.

Preparado como o Batman

Eu mudei de curso e a primeira coisa que pensei foi: "tinha um projeto da Apple aqui na Católica". Perguntei para algumas pessoas como era, tanto dentro quanto fora da universidade. Todos falaram muito bem. Fiquei super entusiasmado, querendo muito fazer parte.

No primeiro dia de aula, minha primeira aula foi de Algoritmos de Programação com o professor Jair. O professor Jair parecia ser uma pessoa rígida, mas que queria o nosso bem. Entende-se nosso bem por: você sabendo programar bem, ou fazer um algoritmo bem comentado e sem coisas desnecessárias.

Me lembro que uma das minhas provas ele tirou ponto porque minhas variáveis tinham nomes ruins. Hoje eu dou risada, naquele tempo fiquei preocupado com o nível de exigência e se eu conseguiria cumprir. Afinal, eu não dava nomes como: v1 ou variável1, mas também não queria escrever um texto como nome da variável, como: nomeDaVariável1ReferenteAoMês12.

Conversando com outros alunos, chegou ao meu conhecimento que o professor Jair era coordenador do BEPID. Na aula seguinte, fui perguntar para ele sobre o projeto. Infelizmente, as notícias não eram boas.

Descobri que o projeto era bienal. Eu troquei de curso no meio de 2017, ou seja, a turma já havia começado e apenas em 2019 eu teria uma chance. A seletiva era em 2018. Faltava 1 ano e meio para conseguir alguma coisa.

Dei o meu melhor na disciplina do Jair, tirei uma ótima nota e no final ele falou: "Participa do processo seletivo do BEPID". Eu respondi: "Pode deixar!".

A meta agora era me tornar a melhor versão possível para passar no BEPID. Então estudei C, POO, algoritmos e tudo que era possível. Além disso, dei monitoria na Católica, buscando entender o código de terceiros (eu era bom em entender o código que eu tinha escrito, apenas). Participei do Hackatruck, um projeto da IBM que tinha ligação com o mundo de iOS.

Detalhe interessante, no Hackatruck foi a primeira vez que interagi com um MacBook. O mais engraçado era que eu não consegui usar em sua totalidade o sistema, nem sabia trocar de Mesas, ou Desktop se preferir. Busquei tutoriais da Apple para entender aquele computador.

Quando chegou o processo seletivo de 2018, eu me sentia o Batman. Estava preparado até os dentes. Havia treinado tudo que precisava. Apenas uma prova e uma entrevista me separavam do tão sonhado destino.

Sempre preparado.

O curioso é a segunda etapa, a entrevista. Onde quem veio me avaliar foi o Jair, aquele mesmo professor do meu primeiro dia de aula. Eu estava tão nervoso que entreguei uma tabela do MIPS em meio a minha documentação. Ele brincou lendo o que era aquela folha extra, enquanto eu tentava desesperadamente falar que era nada.

Detalhe que eu havia me preparado para a prova, a entrevista eu apenas pensei em ser eu mesmo.

Enfim, fui aprovado. Agora estava no Apple Developer Academy, antigo BEPID.

Apple Developer Academy, vulgo BEPID

Primeira coisa que tive que aprender, não era BEPID e sim Apple Developer Academy. A fórmula era a mesma, o nome era melhor (na minha humilde opinião).

Engraçado como eu pensava no começo do Academy. Eu queria realmente ser muito bom nas paradas que eu fazia. Era algo como um objetivo.

No entanto, vejo o tanto de vezes que falhei dentro daquele espaço. Minha namorada e alguns familiares diriam que eu me cobro demais, o que eles têm razão. Porém, é intrínseco a minha pessoa.

O Academy se tornou um lugar onde errei e muito. Aprendia a cada erro. Seja em como lidar com o público, caso eu tenha falhado em algum ponto do meu projeto. Aprender a arrumar o meu projeto e tudo bem se ele não estiver completo. Muitos projetos não estão quando são apresentados, como exemplo, entenda-se: iPhone.

É. Não estava pronto ainda.

Não focar nos defeitos do projeto é uma diretriz importante demais, o que de certa forma refletiu um pouco na minha vida. Foque nas partes que estão dando certo. O resto é questão de se preparar para a próxima.

Aprendi que nem sempre você tem que saber de tudo para iniciar um projeto, mas é importante fazer uma boa pesquisa antes de iniciar. Não adianta bater com a cabeça na parede, tem que bater na parte mais fraca da parede.

São tantas lições diferentes. Contudo, a mais importante foi o escopo e um escopo adaptável. Digo isto, pois eu sempre fui horrível de fazer escopos. Até no último projeto do Academy, propomos entregar 2 apps e um servidor. Ideia que mais tarde se remodelou e ficou diferente, mas foi necessário muita conversa para entendermos um escopo viável.

Eu realmente tenho esta falha de planejar escopo, espero corrigir ela no futuro. Aprender melhor a quantificar o tempo das funcionalidades. Hoje, apenas tento ser menos otimista nos meus projetos.

Estou focando mais este texto nas habilidades que tem menos haver com código, pois programar é "simples". Coloque muitas aspas nisso, mas acredito fielmente que a complexidade maior estão nas coisas que rondam a programação.

Enfim, fiz muitas amizades com alunos e professores. Ao longo do tempo, o Academy se tornou um lugar que aquece meu coração toda vez que penso nele. As 4 horas diárias se tornavam pouco, os projetos se tornavam grandes por mais que fossem simples. De certo modo, o Academy era/é interessante em diversos aspectos.

Vida Pós Academy

Analisando hoje, vejo que o projeto tem um tempo de vida, começou em 2014. Hoje tem seus 6 anos de existência e eu participei de sua 4ª turma. Vejo que muita coisa aconteceu antes de eu chegar no projeto e muita coisa acontecerá depois.

Estranhamente, não me sinto triste por ter acabado. Fico feliz por ter passado pela capacitação e fico feliz de ter contribuído de alguma forma com ela.

Basicamente, ficou a lição de que estive nos ombros de gigantes para então um dia ser o gigante de outra pessoa. Digo isso de toda a equipe de professores, coordenadores e ex-alunos. Todos foram e são parte fundamental desse grande ecossistema que a Academy gera.

Creio que o DNA que o Academy implantou em mim, perdurará para sempre. Não consigo não ser como o Academy me mostrou ser possível. Ganhei hábitos de registrar as coisas, pesquisar bastante e não ter medo do desconhecido.

O profissional que sou hoje é produto do Apple Developer Academy.

Obrigado, Apple Developer Academy!

Tenho que dizer obrigado àqueles que fizeram parte dessa história.

Eu agradeço ao professor Jair pelos puxões de orelha nos momentos que eram necessário. Hoje minhas variáveis possuem nomes espetaculares.

Ao professor Braga que sempre esteve observando (piada interna do Academy) e foi meu orientador de TCC. Que até hoje não sei como ainda aguenta todos esses alunos, estou incluso nessa.

Ao professor Moresi que sempre trabalhou nos bastidores. E, apesar do pouco contato, sei que sempre lutou pelo Academy e pelos alunos ali presente.

Agradeço ao professor Alexandre, um dos mentores que mais tive contato. Além de que provavelmente é o cara mais sagaz de computação que eu conheço. Este sempre me deu conselhos e conversou bastante comigo, logo, tenho que deixar um agradecimento a parte e especial. Eu espero ser um Alexandre para outra pessoa, assim como ele foi para mim.

Aos demais professores que também foram muito importante para mim. Seus ensinamentos e personalidades, permearam em minha pessoa e nunca irão me deixar. Sempre vou lembrar do jeito cômico do professor Michas. Do jeito alegre do professor Marquinhos. Das milhares de técnicas do professor Felipe. De como destruir ideias como o professor Alberto faz. De como gerar ideias de negócios que apenas o professor Júlio tem.

Enfim, eu poderia morrer dando agradecimentos aqui. Mas àqueles que lerem isso e tiverem feito parte dessa história, sinta-se agradecido. Enquanto, para aqueles que leram e ainda não conhecem o Apple Developer Academy, mas querem participar, participem.

Será a melhor experiência de suas vidas. E lembrem-se dessa frase: "Yes, I can!" — por mais que pareça algo tirado da campanha do Obama, não é ligado a isso — , vocês vão precisar.

Obrigado!

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Ramón Dias

iOS Developer, Computer Science Student at Universidade Católica de Brasília — UCB, sometimes I’m a Game Developer